Em 4 de fevereiro de 2017 teve início a greve da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo. O movimento começou três dias após as associações representativas de classe protocolarem junto ao governo do estado um documento que reivindicava uma reunião com o governador até o fim da primeira quinzena de fevereiro para tratar "de assuntos pertinentes a todos os militares estaduais". Justificavam que a audiência se fazia "necessária em face da insatisfação dos policiais e bombeiros militares em relação às perdas salariais dos últimos anos”.

Sob a forma de um movimento de “aquartelamento”, reivindicando a correção da remuneração dos policiais militares pela inflação do período, além do retroativo referente à ausência dessa correção desde 2010, auxílio-alimentação, adicionais de periculosidade e de insalubridade, os manifestantes também pediam a anistia geral de sanções administrativas e judiciais que poderiam ser impostas para todos os policiais e manifestantes e melhoria das condições de trabalho. Tudo isso, apesar da expressa vedação constitucional quanto à sindicalização e direito de greve dos militares.

A greve durou 21 dias e fez a população capixaba viver momentos de terror. Por todo o Estado, capixabas ficaram reféns da insegurança. Segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo, 224 pessoas sofreram mortes violentas no Espírito Santo entre 4 e 25 de fevereiro de 2017. A maior parte delas (125 inquéritos) foi na Grande Vitória. Em todo o mês de fevereiro de 2016, o Espírito Santo havia registrado 122 homicídios. Entre 4 e 10 de fevereiro de 2016, o estado tinha registrado 25 homicídios. Com a paralisação da PM em 2017, o número nesse mesmo período foi de 121, aumento de 384%.

A situação começou a ser controlada a partir do momento que o Estado começou a receber o reforço de tropas federais. A ação militar realizada no Espírito Santo, denominada Operação Capixaba, contou com o efetivo de 3.169 militares das Forças Armadas, quatro aeronaves, 227 viaturas e sete blindados. Foram realizadas 260 horas de voo, com 1.585 patrulhas, 38 operações, 11.545 abordagens e 108 prisões.

Além disso, a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) veio para o Espírito Santo durante o início da greve da Polícia Militar e, atendendo solicitação do governo estadual, permaneceu no ES até o fim de abril. O efetivo chegou a 300 profissionais.

O MPF acompanhou de perto a sucessão de fatos e, inclusive, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, veio do Espírito Santo no dia 11 de fevereiro de 2017. Na oportunidade se reuniu com membros do MPF no Estado, além de membros do Ministério Público Estadual e com o governador do Estado, Paulo Hartung.

Em julho de 2017, Janot pediu a federalização da da apuração de condutas e eventual responsabilização dos oficiais da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo envolvidos no movimento paredista. O pedido foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) mas, em outubro de 2008, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu da decisão.

De acordo com o recurso, na visão do Ministério Público Federal, o movimento grevista dos policiais militares do Espírito Santo, sua proporção, os efeitos sobre a população capixaba, o comportamento e a opinião das autoridades governamentais e a repercussão do caso preenchem os requisitos constitucionais e jurisprudenciais a autorizar e recomendar o deslocamento de competência.

Em agosto de 208, o MPF no Espírito Santo ajuizou ação civil pública indenizatória contra a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo (ACS/PMBM/ES), a Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares do Estado do Espírito Santo (Aspomires), a Associação Geral dos Militares (Agem/PMBM/ES) e a Associação de Benefícios aos Policiais e Bombeiros Militares do Espírito Santo (Aspobom).

Na ação, o MPF pede a condenação das associações a ressarcir o prejuízo sofrido pelo erário federal, pela mobilização e manutenção de tropas das Forças Armadas para garantir a ordem pública no Espírito Santo em razão da greve de policiais militares, ocorrida em fevereiro do ano passado. A condenação deverá ser imposta solidariamente a todas as associações, uma vez que elas se associaram para a realização da greve.

Segundo informação do chefe do Gabinete do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, fornecida ao MPF em fevereiro do ano passado, os custos estimados com a operação chegaram a R$ 37.491.141,80. Neste sentido, o valor total do ressarcimento deverá ser definitivamente apurado na liquidação de sentença.

O MPF também pede o ressarcimento no valor de R$ 12 milhões por dano moral coletivo causado à sociedade capixaba durante a greve, situação que privou a população do direito fundamental à segurança pública e considerando a expressa proibição constitucional de greves de militares. “O valor pretendido corresponde a apenas 0,5% do montante que se noticiou na imprensa local como correspondente ao prejuízo gerado ao comércio e à indústria em decorrência de uma semana de paralisação”, frisa a ação que está em andamento.